Na noite do último sábado (11), morreu o ator Lúcio Mauro aos 92 anos de idade, no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pela Rede Globo.
O ator estava internado há dois meses na Clínica São Vicente, no bairro da Gávea, com problemas respiratórios.
O ator teve cinco filhos (entre eles, o ator Lúcio Mauro Filho) e é casado desde 1974 com Ray Luiza Araujo Barbalho.
Em 2012, Lúcio foi internado após ter caído num restaurante, passando por uma cirurgia para correção de uma fratura no fêmur. Em abril de 2016, o ator sofreu um derrame, que afetou uma área da garganta, comprometendo a fala e a mastigação.
Trajetória
Lúcio de Barros Barbalho, mais conhecido como Lúcio Mauro, já atuava em teatro estudantil quando, com pouco mais de 20 anos, foi convidado para trabalhar na companhia teatral do ator Mário Salaberry, marido da atriz Zilka Sallaberry. O grupo faria uma turnê por algumas cidades, incluindo Recife (PE), onde Lúcio pretendia prestar vestibular para a Faculdade de Direito e seguir para o Rio de Janeiro.
Na viagem para o Rio, sofreram um acidente. Lúcio Mauro ficou muito machucado, mas Salaberry não resistiu aos ferimentos e morreu. Arrasado, o jovem ator voltou para o Recife, onde conheceu o comediante Barreto Júnior, dono de uma companhia de teatro com sede na cidade. Começava uma longa carreira como comediante.
De Recife para o Rio de Janeiro
Lúcio Mauro ficou nove anos em Recife, encenando peças do repertório nacional. Em 1960, com a inauguração da TV Rádio Clube de Pernambuco, ele estreou seu primeiro humorístico na televisão, o Beco sem Saída, onde contracenava com o comediante e dublador José Santa Cruz – Balança Mas Não Cai, A Praça é Nossa, Zorra Total. Até ser chamado por Walter Clark para trabalhar na TV Rio, no Rio de Janeiro, juntamente com sua mulher na época, a atriz Arlete Salles.
Após algum tempo na TV Rio, Lúcio Mauro foi trabalhar na TV Tupi, período em que atuou em vários quadros humorísticos, contracenou com Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Yoná Magalhães e Sérgio Cardoso (entre outros) no teleteatro Grande Teatro Tupi, participou do corpo de jurados do programa apresentado por Flávio Cavalcanti, dirigiu o programa A, E, I, O… Urca! e apresentou o infantil Essa Gente Inocente, que tinha Wilton Franco na direção. Também estrelou, ao lado de Arlete Salles, o programa de humor e música I Love Lúcio.
Em 1966, Lúcio Mauro estreou na Globo, no humorístico TV0–TV1, ao lado de Jô Soares, Agildo Ribeiro, Paulo Silvino e outros humoristas, sob direção de Augusto César Vannucci.
Balança, Mas Não Cai
Dois anos depois, criou e dirigiu na Globo o humorístico Balança Mas Não Cai (1968), escrito por Max Nunes e Haroldo Barbosa, e transmitido, ao vivo, até 1971. O programa tinha como um dos quadros de maior sucesso o Ofélia e Fernandinho, estrelado pelo próprio Lúcio e por Sônia Mamede (1936-1990). Ao Memória Globo, ele conta que um dos maiores desafios da vida foi elaborar o formato do programa. “O humor é uma arte muito difícil, ou você faz ou você não faz. Estar disposto a fazer humor todo dia é raro, tanto para escritores, quanto para os atores. É essencial em um humorístico um elenco homogêneo, engraçado, que ninguém gagueje.”
Para Lúcio Mauro, o humorístico conseguiu juntar todos esses elementos: uma equipe muito boa de roteiristas e um elenco impecável. “A Globo reuniu ali todo o elenco de humor do Brasil, era muita responsabilidade. Eu tive que dirigir de 300 a 400 atores. Como o programa era ao vivo, não podia ter a mínima falha, porque derrubaria todo o esquema.”
Já no programa de variedades Alô Brasil, Aquele Abraço (1969), o comediante protagonizou um dos momentos mais inusitados de sua vida: um dos apresentadores das atrações regionais, como representante da região Norte, ficou em último lugar em uma das competições e recebeu como castigo lavar a cabeça da estátua do Cristo Redentor.
Na emissora, também trabalhou no musical Viva a Revista! (1969) e foi ator e diretor do programa de humor Uau, a Companhia (1972). Quando o Balança Mas Não Cai foi para a TV Tupi, nos anos 1970, ele acompanhou os colegas do programa e deixou a Globo por um tempo, voltando para integrar o elenco de Chico City (1973) no final da década. Fez inúmeros quadros e personagens, entre eles o Da Julia, diretor do ator canastrão Alberto Roberto, interpretado por Chico Anysio. Em seguida, voltou a dirigir e atuar na nova versão de Balança Mas Não Cai (1982) na Globo, sendo também diretor de A Festa é Nossa, semanal que tinha como cenário fixo a cobertura de Ofélia e Fernandinho, onde se desenrolavam os esquetes de humor e os números musicais.
Amizade e parceria com Chico Anysio
Ainda na década de 1980, Lúcio Mauro participou de diversos programas humorísticos da Globo, como Chico Anysio Show (1982) e Os Trapalhões (1989) – onde reviveu com Nádia Maria a dupla Fernandinho e Ofélia -, além de atuar em programas de dramaturgia. Em 1983, interpretou o médium Chico Xavier no Caso Verdade Chico Xavier, um Infinito Amor, que se propunha a contar a vida do grande divulgador do espiritismo no Brasil. Em 1988, fez uma participação na minissérie O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, como o personagem Dr. Quindim.
Na década de 1990, Lúcio Mauro viveu o sem-vergonha Aldemar Vigário, da Escolinha do Professor Raimundo, que contava lorotas e bajulava o professor interpretado por Chico Anysio. O ator e humorista trabalhou em um episódio de Você Decide (1992), esteve temporariamente no elenco de Malhação (1995), como intérprete de Dr. Palhares, pai de um dos personagens mais populares dos primeiros anos do seriado, o Mocotó (André Marques), e atuou na novela infantil Caça-Talentos (1996), do programa Angel Mix (1996), onde interpretou o personagem Marvin. Em seguida, integrou o elenco do humorístico Chico Total (1996), onde interpretou vários tipos. Em 1998, encarnou o bicheiro mafioso Neca do Abaeté na minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, escrita por Dias Gomes com base no romance de Jorge Amado; viveu o advogado Nonato na segunda versão da novela Pecado Capital, de autoria de Glória Perez com base no original de Janete Clair; atuou em um episódio de Sai de Baixo; e fez uma pequena participação em Meu Bem Querer, de Ricardo Linhares.
A partir de 1999, Lúcio Mauro retomou antigos personagens no novo humorístico Zorra Total, que reeditou o quadro Fernandinho e Ofélia, desta vez com Claudia Rodrigues no papel da esposa burra, e a sala de aula da Escolinha do Professor Raimundo.
Também integrava o elenco do programa o ator Lúcio Mauro Filho, filho de Lúcio Mauro. Em março de 2001, o humorista voltou à nova temporada da Escolinha do Professor Raimundo como programa independente, vivendo novamente o popular Aldemar Vigário. Nesta década, participou de vários programas de humor da emissora, como Os Normais, A Grande Família, A Diarista, Sob Nova Direção, Programa Novo, Faça a Sua História e Zorra Total. Neste último, em 2012, viveu o personagem Ataliba, um vovô surfista, amigo de Gumercindo (José Santa Cruz), um senhor skatista. Os dois tentavam conquistar moças no vagão do Metrô Zorra Total. A dupla reviveu a parceria da estreia de Lúcio Mauro em humor na TV, em 1960, no Recife.
Em 2007, participou da trama de Paraíso Tropical, de Gilberto Braga, como o personagem Veloso e em 2008, da série Casos e Acasos e da novela A Favorita, de João Emanuel de Carneiro, no papel de Sabiá. No remake de Gabriela (2012), viveu Eustáquio. No penúltimo episódio de A Grande Família (2014), Lúcio Mauro interpretou Rui, um amigo de Agostinho Carrara (Pedro Cardoso).
Lúcio Mauro também tem passagens pelo cinema, onde fez, entre outros, Terra sem Deus (1963), de José Carlos Burle; 007 ½ no carnaval (1966), de Victor Lima, onde interpretou Zé das Medalhas, personagem que viveu no início da carreira no programa Beco sem saída, contracenando com José Santa Cruz no papel de Jojoca; Redentor (2004), de Claudio Torres; Cleópatra (2008), de Júlio Bressane; e Muita Calma Nessa Hora (2010), de Felipe Joffily.
Em 2008, o humorista estreou a peça Lúcio 80-30, dividindo o palco com Lúcio Mauro Filho, autor e diretor do espetáculo, e com outros dois filhos, Alexandre Barbalho e Luly Barbalho.
Em 2015, Lúcio Mauro fez uma participação especial emocionante no primeiro episódio da Nova Escolinha do Professor Raimundo, uma co-produção do Canal Viva e Globo. Ele fez o papel de um servente da escola que mostra o caminho da nova sala de aula para o Professor Raimundo (Bruno Mazzeo). O ex-aluno termina dando boa sorte ao “novo” professor.
A causa da morte do ator Lúcio Mauro e o local do velório não foram divulgados até o fechamento desta matéria.
(com informações e imagens do Memória Globo)