Infestação de barbeiros na região do Alto Tietê e Grande São Paulo gera preocupação

Nos últimos cinco anos, equipes da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) encontraram 135 insetos transmissores da doença de Chagas em municípios da Grande São Paulo.

Ainda não há casos registrados em pessoas, mas, segundo as análises de laboratório na Sucen, os insetos capturados, conhecidos como barbeiros, se alimentaram de sangue humano, aves, roedores, gambás, cães e gatos.

De acordo com o biólogo Rubens Antonio da Silva, pesquisador científico e coordenador técnico do programa de controle de doença de Chagas da superintendência, ao identificar, em 2015, um barbeiro em Pirapora do Bom Jesus, e em Taboão da Serra, a equipe pensou que poderia ser casos isolados.

A conclusão da equipe se desfez quando houveram outros chamados de moradores dos municípios nos anos seguintes e, em 2018, também de Carapicuíba, Embu das Artes, Itapecerica da Serra e bairros da Zona Oeste de São Paulo. Em 2019, a lista cresceu com os município de Juquitiba e Santana de Parnaíba. Na região do Alto Tietê, em Ferraz de Vasconcelos foi registrada a presença de barbeiros.

Segundo artigo do biólogo publicado na revista ‘Brazilian Journal of Health Review’, enquanto, pela primeira vez, cresce o número de barbeiros na região metropolitana de São Paulo, ao contrário do interior do Estado, que teve uma queda de 4 mil nos registros de insetos contaminados.

No Estado de São Paulo, apenas um caso de pessoa com doença de Chagas foi registrado em 2016, e dois em 2017, segundo o Ministério da Saúde. Já no norte do país, nesses dois anos, o número de casos passou de 20 para 320.

Histórico
Em 2006, o Brasil recebeu da OMS (Organização Mundial da Saúde) uma certificação por ter praticamente eliminado o barbeiro Triatoma Infestans, a principal espécie transmissora da doença, hoje restrita a regiões da Bahia e Rio Grande do Sul.

No entanto, em consequência da intensa transmissão até meados do século 20, estima-se que entre 1,2 milhão e 4,6 milhões de pessoas no Brasil tenham a forma crônica da doença de Chagas, com cerca de 6.000 mortes por ano, principalmente por insuficiência cardíaca, que afeta cerca de 30% das pessoas com o parasita, de acordo com a OMS.

Atualmente a espécie de barbeiro que mais preocupa é Panstrongylus megistus, por ser capaz de viver tanto em matas quanto em espaços domésticos. P. megistus tem o corpo marrom com manchas vermelhas e 2,5 cm a 4 cm de comprimento.

O inseto é atraído pela luz e pode entrar nas casas por portas ou janelas abertas. Os barbeiros se infectam com T. cruzi ao se alimentarem do sangue de animais que o abrigam sem desenvolver a doença, os chamados reservatórios naturais, como gambás, morcegos, tatus, macacos, preguiças, pacas, capivaras, cães e gatos.

Até agora os registros de P. megistus na região metropolitana paulistana eram esparsos. De 1999 a 2017, 15 exemplares foram capturados na cidade de São Paulo, segundo Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo.

Em 2018 e 2019, as equipes da Sucen registraram P. megistus em áreas próximas a matas de quatro bairros da zona oeste da capital: Jardim Amaralina, Cohab Raposo Tavares, Jardim Esmeralda e Butantã.

Após estudos nos locais de ocorrência de barbeiros nos últimos anos, os insetos podem estar se movendo, aproveitando conexões de matas e parques, a partir da região entre as rodovias Régis Bittencourt e Raposo Tavares.

Se a hipótese estiver correta, como os insetos se reproduzem mais intensamente no verão, no final de 2019 os moradores de bairros da zona norte como o Tucuruvi, perto do Parque da Cantareira, e da zona sul, próximos ao zoológico de São Paulo, devem encontrar insetos perto ou dentro de suas casas.

Casos recentes
A chamada transmissão vetorial, por meio dos insetos infectados pelos protozoários, hoje responde por 9% dos casos humanos registrados no país pelo Ministério da Saúde. Em 18% das ocorrências, a forma de transmissão do parasita não é identificada. Atualmente, predomina a transmissão oral (72%), por meio do consumo de alimentos ou bebidas com fezes dos insetos contaminadas com o parasita.

Ainda segundo o estudo da Fundação de Medicina Tropical, publicado na Emerging Infectious Diseases, relatou dez casos de pessoas que apresentaram os sintomas iniciais da doença de Chagas – febre, dor de cabeça e fraqueza – depois de terem tomado suco de açaí contaminado com T. cruzi, em 2017 e 2018.

Neste ano outro episódio incerto foi relatado ao Sucen, um grupo de 77 pessoas participou de um retiro religioso, em Ibimirim (PE), 31 foram diagnosticados com a doença de Chagas, contraída por alimento ou bebida contaminada. Todos foram tratados com o benznidazol, medicamento eficaz na fase aguda da doença.

(com informações do site GrajauNews)